terça-feira, 26 de novembro de 2019

A LENDA DE OBALUAÊ

























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Conta-nos o itan mais famoso de Obaluaê, em uma de suas versões, que Nanã estava ávida para gerar um filho. Dessa forma, para realizar seu intento, enfeitiçou Oxalá para que este se deitasse com ela e pudesse engravidá-la, realizando seu desejo. Ocorreu, porém, que sua mironga não passou desapercebida durante a concepção e Nanã, ao dar a luz ao filho gerado, se deparou com um bebê coberto por chagas e feridas repugnantes. Arrependida, resolveu abandoná-lo na beira da praia, local onde Yemanjá posteriormente o encontrou. Compadecida e maternal, a Sereia cuidou do garoto até que Obaluaê crescesse.

Um belo dia, em uma festa onde todos os orixás se encontravam presentes, Ogum notou que Obaluaê apenas espreitava as festividades pelo lado de fora, envergonhado de sua aparência doente e purulenta. O cavaleiro, então penalizado pelo isolamento do orixá, vai buscar palhas para cobrir seu corpo. Obaluae aceita então participar da dança dos orixás com a condição de as palhas esconderem seu real aspecto, conseguindo assim entrar no baile. Todos os orixás sabiam de sua condição, de modo que também não se aproximavam, com exceção de uma Yabá.

Iansã, Senhora dos Ventos e muito impetuosa, ao compreender o que se passava, tirou o orixá para dançar e o colocou no meio de um vendaval, fazendo com que todas as palhas que cobriam seu corpo voassem pelo salão e suas feridas se descolassem de seu corpo, transformando-as em pipocas que caíam por cima de todos.

Ao ficar descoberto e totalmente curado de sua condição, descobriu-se por fim que Obaluaê era extremamente bonito e encantador, sendo, na verdade, o mais bonito de todos os orixás. Em sua infinita humildade, Obaluaê recolheu novamente suas palhas para se recobrir, escondendo sua beleza do mundo para  ser reconhecido apenas como curador.

A lenda de Obaluaê é uma das mais bonitas lições que os orixás vêm nos ensinar e está recheada de alusões. A atitude inicial de Nanã e o nascimento de seu filho doente já nos demonstra que toda ação kármica gera um fruto podre, assim como sua atitude egoísta gerou um bebê doente. Ela ainda representa, nesse itan, nosso aspecto psicológico de rejeição das nossas sombras e das consequências dos nossos plantios como seres que resolvem, por vezes, rejeitar a maternidade de tudo aquilo que fizemos e acreditamos ser feio. Isso não significa, no entanto, que tudo está perdido. Não à toa, Nanã abandona seu filho na beira do mar, isso é, aos pés da Mãe Divina, que sabe cuidar de aspectos que nós ainda não temos nem condição de aceitar. Também, não é por acaso que Obaluaê se deixa ser visto por Ogum, o vencedor de todas as demandas. Em sua imensa misericórdia, ele o coloca próximo aos orixás sem que haja uma exposição dolorosa de seus defeitos ou humilhação, nos ensinando que o intuito do Pai Divino, nesse momento em forma de Ogum, não é nos ridicularizar mas, sim, nos acolher e nos aceitar do modo que nos apresentamos, ainda que no baile todos soubessem do real motivo que escondia Obaluae debaixo das palhas. Quantas vezes nós também nos apresentamos no bailado da vida com máscaras para esconder quem verdadeiramente somos? Inicialmente, esse é o sentido das palhas que mais tarde se tornarão a caracteristica física mais conhecida do orixá.

Iansã, por sua vez, aparece aqui como mais um aspecto da Mãe Divina, dessa vez  como vendaval de Axé, sendo como o caminhar espiritual que pode, por vezes, expor nossas falhas e defeitos e derrubar nossas máscaras mas que, ao final, existe para revelar nossa verdadeira beleza e nos trazer a mais completa cura. A atitude final de Obaluaê revela o mais alto grau de iluminação do curador, aquele que abre mão de seu ego para exercer compaixão perante às chagas alheias. As palhas aqui representam agora a humildade de quem alcançou uma compreensão plena de sua missão enquanto médico espiritual. Por sua humildade, está diretamente ligado à linha de pretos velhos dentro da umbanda, conhecidos por serem também exímios curadores e seres de muita luz e alto grau de evolução. As pipocas, por fim, nos remetem ao processo de transformação revelado pelo fogo, que gera a pipoca através do estouro do milho, assim como a doença gera cura e a dor vira luz pelo fogo divino.

Dentro do polimatismo, Obaluae pode, em sua vibração, trabalhar em tudo aquilo que se considera doença e precisa do reestabelecimento de um estado curado. Mas, afinal, o que é cura e saúde? Existem inúmeros conceitos diferentes do que são essas condições. Para os pajés, por exemplo, toda doença é um espírito e, para curar, é necessário tirar esse espírito. Para a ayurveda, a medicina indiana tradicional, a ausência de doenças ainda não é significado de saúde, necessitando que haja algo além disso, como equilibrio, bem estar e até mesmo fé e conexão espiritual. A OMS também entende dessa forma, trazendo esse conceito como  "um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não consiste apenas na ausência de doença ou de enfermidade." 

Sendo assim, podemos buscar dentro da nossa evolução, com o auxílio misericordioso de Obaluaê em sua simplicidade e humildade, a cura de nossas doenças e o reestabelecimento de nossa saúde e todas as nuances que esse estado engloba.  Para isso, faz-se necessário ir muito além da compreensão de cura como mera questão de retirada de causas e sintomas. A vibração desse orixá pode nos auxiliar no reestabelecimento da saúde como um estado natural de equílbrio e bem viver através da superação das nossas limitações egóicas para que as doenças não surjam e também não retornem.

Atotô!!

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Ritual de Louvor aos Orixás / Obaluê -Templo Polimata Jundiaí





PROGRAMAÇÃO E INSCRIÇÕES:

domingo, 10 de novembro de 2019

Śrī Viṣṇu

Todas as Glórias à Śrī Guru Mahārāja Ācārya Mahāsūrya Paṇḍita Svāmī!
Todas as Glórias à Śrī Mahādeva!
Todas as Glórias à Śrī Bhagavān!
Todas as Glórias à Śrī Śakti Devī!
Todas as Glórias à Śrī Śrī Viṣṇu! 

Śrī Viṣṇu

Neste mês de novembro, nos Templos Polimatas, celebraremos Satsaṅgas à aquele que repousa nas águas do oceano causal: Śrī Viṣṇu.


Dentro do que é considerado popularmente como a principal trindade dentro do hinduísmo, junto Śrī Brahmā a Śrī Śiva, Śrī Viṣṇu cumpre o papel de mantenedor, aquele que traz o equilíbrio à criação. Śrī Brahmā a Śrī Śiva, respectivamente, cumprem os papeis de criador e transformador.

Śrī Viṣṇu é conhecido, dentre suas infinitas qualidades, como aquele que tudo permeia e tudo sustenta. As suas montarias (Vāhana)  são Śeṣa, o rei das serpentes, um dos seres primordiais da criação, e Garuḍa, rei dos pássaros e protetor do Dharma.

Sua consorte é Śrī Lakṣmī, deusa da riqueza, da prosperidade e da beleza. Ela é a fonte das oito opulências do Śrī Viṣṇu. Nas ocasiões em que Śrī Viṣṇu encarna enquanto Śrī Rāma e Śrī Kṛṣṇa, Śrī Lakṣmī também encarna enquanto sua consorte, sendo  Śrī  Sita e Śrī Rādhā respectivamente.


Śrī Viṣṇu  e Śrī Lakṣmī sobre o oceano causal

Enquanto mantenedor do universo, Śrī Viṣṇu encarna (enquanto um avatara, aquele que desce) de tempos em tempos para reestabelecer o equilíbrio da criação. Conforme descrito na Bhagavad Gita:


यदा यदा हि धर्मस्य ग्लानिर्भवति भारत  
अभ्युत्थानमधर्मस्य तदात्मानं सृजाम्यहम् ॥७॥ 

yadā yadā hi dharmasya glāniḥ bhavati bhārata 
abhyutthānam adharmasya tadā ātmānam sṛjāmi aham  7 

“Sempre e onde quer que haja um declínio na prática religiosa, ó descendente de Bharata, e uma ascensão predominante da irreligião – aí, então, Eu próprio faço Meu advento.”

 
De diversas listas dos daśāvatāras (dez principais encarnações de Śrī Viṣṇu), pode-se destacar abaixo a mais famosa:

1.    Matsya (satya yuga) – o peixe;
2.    Kūrma (satya yuga) – a tartaruga;
3.    Varāha (satya yuga) – o javali;
4.    Nṛsiṃha (satya yuga) – o homem-leão;
5.    Vāmana (tretā yuga) – o anão;
6.    Paraśurāma (tretā yuga) – o brāhmaṇa-kṣatriya;
7.    Rāma (tretā yuga) – o rei virtuoso;
8.    Kṛṣṇa (dvāpara yuga) – o Todo-Atraente, que dispensa apresentações;
9.    A. Balarāma (dvāpara yuga) – poderoso guerreiro, irmão de ŚrīKṛṣṇa
9.    B. Buddha (kali yuga) – dependendo da tradição estudada, considera-se Gautama Śākyamuni como uma das encarnações do Senhor Viṣṇu;
10.  Kalki (kali yuga) – uma encarnação futura, que descerá ao nosso plano ao final da presente era, marcando o retorno cíclico à Satya Yuga.

Além dos avatares descritos nesta lista, há ainda outros, como Śrī Kṛṣṇa Caitanya Mahāprabhu, o preceptor do vaishnavismo gaudiya, e Śrī Vēṅkaṭēśvara, o senhor de Venkata, uma montanha localizada do sudeste da Índia, região onde Ele é cultuado sob essa forma.

Śrī Vēṅkaṭēśvara


Invocações mântricas 

गायत्री
gāyatrī

ॐ नारायणाय विद्महे
वासुदेवाय धीमहि ।
तन्नो विष्णुः प्रचोदयात् ॥
oṃ nārāyaṇāya vidmahe
vāsudevāya dhīmahi 
tanno viṣṇuḥ pracodayāt 
“Contemplamos Aquele que repousa sobre as águas da criação,
Meditamos n’Aquele que é o Senhor de Todos os Seres.
Reverenciamo-nos ao Onipenetrante, para que nos ilumine com sabedoria.”

द्वादशनो महामन्त्र
dvādaśano mahāmantra (“grande mantra de doze sílabas”)

ॐ नमो भगवते वासुदेवाय
oṃ namo bhagavate vāsudevāya
Reverências ao Senhor Supremo, Senhor de todos os seres.


Nossos satsaṅgas com Ayahuasca à Śrī Viṣṇu se darão nos próximos sábados nos Templos Polimatas. Siga a programação dos eventos na Agenda Polimata.

Minhas mais humildes e sinceras reverências,
Filipe Uveda

Mais uma vez, especiais agradecimentos a nosso querido irmão Yuri D. Wolf pelo auxílio na transmissão destes conhecimentos.

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Satsaṅg à Śrī Viṣṇu  -Templo Polimata Jundiaí


PROGRAMAÇÃO E INSCRIÇÕES: